Integrado
no Projeto O Museu Aqui e Agora e o
Futuro que lá Mora, da Rede de Bibliotecas Escolares e da Câmara Municipal de
Sintra, a Escola Básica Ferreira de Castro teve o prazer da presença de Eugénio
da Costa Ruivo e David Luna de Carvalho, da URAP (UNIÃO DE RESISTENTES
ANTIFASCISTAS PORTUGUESES) que no dia do Agrupamento de Escolas Ferreira de
Castro vieram participar na realização de um conjunto de atividades
diversificadas, escolhendo como tema central Comemorar o 50° Aniversário do 25 Abril.
Para o Projeto O Museu Aqui e Agora e o Futuro que lá Mora, a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro e os quatro grupos da equipa do 5ºA, trabalharam o Museu Municipal de Artes de Sintra, MU.SA, cujas exposições temporárias versaram maioritariamente sobre a Revolução Portuguesa de 25 de Abril de 1974. Deste modo, a maioria dos trabalhos dos alunos neste projeto, incidiu sobre este acontecimento.
Neste
encontro com oito turmas, e segundo as palavras dos palestrantes, David Luna de Carvalho, sendo natural de
Angola, falou da sua vivência enquanto jovem, no qual só começou a adquirir
consciência social e política quando veio estudar para o Continente para dar continuidade
aos seus estudos. Recebeu uma educação religiosa, em que os negros eram
apresentados como aqueles que " pecavam mais do que os brancos", mas
continuava a inquietar-se com a forma como os africanos eram (mal) tratados...Quando
chega a Portugal, a observação da situação de uma grande parte dos portugueses
que viviam em condições muito precárias (em barracas), verifica que segundo o
dogma " somos todos filhos de Deus"... não parece revelar-se.
Ao orador Eugénio
Ruivo coube a parte do que foi a sua vivência como trabalhador infantil, a sua
tomada de consciência social e política, centrando depois a sua intervenção na
ação da repressão policial (PIDE/ DGS) nas diferentes prisões políticas de que
ele, a sua família e muitos milhares de portugueses foram alvos entre 1926-1974
pela ditadura fascista. Falou ainda da libertação final de todos os presos das
cadeias de Caxias e Peniche depois da Revolução do 25 de Abril.
Ambos
intervenientes falaram da supressão das liberdades democráticas a partir de
1926, da existência de partido único, da aliança do ditador fascista de Salazar
com o nazismo, das prisões e consequentes torturas em que muitos antifascistas
foram alvo (em particular dos comunistas), da Guerra Civil Espanhola, da 2°
Guerra Mundial, a par das lutas dos trabalhadores que se fizeram sentir.
Os nossos convidados falaram ainda da discriminação das mulheres, do trabalho infantil, de quem tinha acesso ao ensino de "elite", da Guerra Colonial e do descontentamento nas Forças Armadas, até à génese do 25 Abril e consequente libertação dos presos políticos. Os palestrantes fizeram a desmontagem do chamado Estado Novo, em ditadura fascista, resistência e luta pela Liberdade e Democracia.
Referindo as palavras dos oradores, as sessões foram muito participadas, com inúmeros alunos do 2° ciclo a levantarem questões muito pertinentes, e com o envolvimento de grupos de alunos do 7º e do 9º ano com questões sobre mecanismos repressivos, caracterização do regime fascista onde tudo o que "se mexia era preso”, sobra a Guerra Colonial e a luta pela autodeterminação e independência das ex colónias.
Os oradores, em todas as sessões, procuraram esclarecer e adequar os conteúdos às idades dos alunos e aos graus de escolaridade (5º, 7º e 9º anos), proporcionando em diversos casos grande empatia pelas questões colocadas. Verificou-se a existência de um trabalho prévio dos professores com os alunos que, quando questionados, uma grande parte correspondeu de forma positiva.
Os palestrantes confidenciaram a percepção, obtida nas conversas com os vários professores, que os valores da conquista da Liberdade e da Democracia, no qual várias gerações foram fustigadas pela repressão ditatorial que ocorreu durante 48 anos, pouco dizem às novas gerações e mesmo a muitos Encarregados de Educação (muitos eram crianças na altura do 25 de abril de 1974 ou nasceram depois) e tomam como garantidos estes valores. Por esse facto os nossos oradores consideram que estas ações são muito importantes, sobretudo, como esta em que houve uma transmissão do testemunho pessoal de Eugénio da Costa Ruivo e da sua vivência como opositor ao regime de Salazar, para que os jovens percebam que devem dar valor à liberdade e à democracia e ficar inquietos quando elas não existem.
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