Blogue da Biblioteca Escolar da Escola Básica Ferreira de Castro - Sintra

Aqui partilhamos tudo o que acontece na nossa Biblioteca.

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06 maio, 2022

Contos tradicionais ilustrados (DAR VISTA AOS CEGOS)


    Associar a leitura a projetos de criatividade visual é um objetivo constante da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro. Com os seus  projetos Lendas lidas e ilustradas e Contos tradicionais ilustrados, a biblioteca escolar associou a leitura de textos de tradição popular à ilustração criativa realizada pelos nossos leitores. A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro na sua obrigação de desenvolver o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, associa a sua função de promoção da leitura à implementação da compreensão no domínio de processos técnicos e performativos envolvidos na criação artística, possibilitando o desenvolvimento de critérios estéticos para o juízo crítico e para o gosto, numa vivência cultural informada.
    Hoje é o trabalho de Ana Carolina da equipa do 8ºA que divulgamos com o conto açoriano Dar Vista aos Cegos.



DAR VISTA AOS CEGOS

Um cego tinha uma filha muito linda, que o acompanhava para toda a parte,
julgando assim defender a sua honra. A rapariga combinou com o namorado um
estratagema: em um caminho estava uma cerejeira, e ele devia esconder-se aí, e
quando passasse com o pai arranjaria as cousas de modo a poderem abraçar-se.
As cousas dispuseram-se a seu talante.
Ao passar perto da cerejeira, diz a rapariga:
— Ó pai, está ali uma cerejeira, tão carregadinha, que parece um andor. Deixe-me
apanhar algumas?
O cego concordou, e depois que a filha subiu à cerejeira, ficou agarrado ao
tronco, para, segundo seu intento, guardar a honra da filha.
Os namorados não perderam tempo; mas no seu enlevo, passavam dois
peregrinos, que eram Jesus Cristo e São Pedro, que andavam pelo mundo.
— Divino Mestre! — exclamou São Pedro —, como é louvável um pai que
guarda a honra da filha.
Por um ar do divino Mestre o cego recuperou subitamente a vista; e espantado
de ver a filha entre a ramagem da cerejeira abraçada pelo namorado, ela com
toda a frescura acudiu de pronto:
— Não se zangue comigo pai: o que fiz foi para lhe dar vista.
São Pedro olhou para o divino Mestre, que na sua infinita bondade, disse
sorrindo: Mulheres hão de ser sempre mulheres.
(Açores)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.



03 maio, 2022

Contos tradicionais ilustrados (AS CUNHADAS DO REI)


    A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro continua a dar a conhecer contos tradicionais portugueses e a solicitar a sua interpretação visual através de projetos que estabelecem parceria entre a biblioteca escolar e a disciplina de Educação Visual. Neste caso, do professor Fernando Trigo, temos a aluna Beatriz Varandas, do 8ºA1, que construiu o seu projeto de ilustração com o conto As cunhadas do Rei. Mais uma vez agradecemos a alunos e professores o facto de terem abraçado os projetos de ilustração de contos tradicionais e lendas do mundo, da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro.

AS CUNHADAS DO REI

O rei andava de noite pelas ruas acompanhado do seu cozinheiro e do seu
copeiro disfarçado, escutando pelas portas; passou por um balcão onde estavam
três meninas, alegremente conversando, pôs-se à escuta do que diziam:
— Ali vão três tunantes; se um fosse o rei, já eu sabia quem eram os outros.
— Um era o cozinheiro. Quem me a mim dera casar com ele; sempre havia de
comer bons fricassés.
— O outro era o copeiro; pois eu cá o que queria era casar com ele, porque
havia de ter bons licores.
Disse a mais nova:
— Eu não sei quem eles são; mas ainda que fossem condes ou duques, antes
queria casar com o rei porque lhe havia de dar três meninos cada um com a sua
estrela de ouro na testa.
O rancho foi-se embora, mas no outro dia, o rei mandou ir à sua presença as três
irmãs. Perguntou-lhes se era verdade o que elas tinham dito na véspera à noite.
Respondeu a mais velha por si.
Disse o rei:
— Pois então casarás com o meu cozinheiro.
A do meio também disse que tinha falado por zombaria; o rei mandou que se
arrecebesse com o copeiro. Chegou-se por fim a mais moça, que era a mais
bonita:
— Então, disseste que só querias casar comigo?
— É verdade, não posso mentir; mande-me Vossa Majestade castigar.
O que o rei fez foi casar com ela; as irmãs ficaram a arrebentar de inveja, mas
viviam no palácio. Ao fim do tempo, a que estava rainha teve dois meninos com
uma estrelinha na testa. As irmãs que estavam com ela, trocaram os meninos por
dois cães. Os meninos foram botados ao rio dentro duma condessinha, e
seguiram por água abaixo até ao moinho de um moleiro; como lhe parasse a
água, ele saiu a ver o que era, e achando as duas criancinhas tomou-as para casa e criou-as. 
Ora o rei andava longe da terra, e quando veio soube do caso e ficou
muito triste mas não fez mal à mulher.
Passado tempo a rainha teve uma menina, e as irmãs, vendo que ela também
tinha uma estrela na testa trocaram-na por uma cadelinha e mandaram-na
deitar ao rio; assim foi ter ao moinho onde já estavam os irmãos. O rei quando
soube que a sua mulher tinha tido uma cadela, mandou-a enterrar até à cinta no
pátio do palácio, para que todos que entrassem ou saíssem lhe cuspissem em
cima.
Os três meninos cresceram, e o moleiro pôs-lhes umas carapucinhas para
encobrir as estrelas de ouro que tinham na testa.
Um dia foi uma pobre pedir esmola à porta do moleiro; os meninos deram-lhe a
esmolinha, e era Nossa Senhora, que lhes disse, — quando se vissem em alguma
aflição dissessem: «Valha-me aquela pobrezinha.» Veio a peste, e o moleiro e
toda a sua gente morreu, e os meninos foram todos três por esse mundo.
Apareceu-lhes a pobre que os guiou até ao pé do palácio do rei, e deu-lhes a cada
um a sua pedrinha, para se tornarem em um grande palácio quando as atirassem
ao chão.
As tias estavam à janela do paço, e reconheceram que eram os meninos das
estrelinhas na testa; trataram logo de ver se os matavam. Mandaram ter com eles
uma criada bruxa, que disse ao mais novinho, para entrar no jardim e apanhar
um papagaio. Ele disse-lhe que não; vai o mais velho como animoso, disse:
— Pois vou eu.
E assim que entrou perdeu-se lá dentro e ficou encantado em leão. O outro
quando viu que o irmão não tornava chamou pela pobrezinha; ela veio e deu-lhe
uma lança, e disse:
— Vai ao jardim, e fere com ela o leão encantado.
Ele assim fez; e apareceu-lhe logo outra vez o irmão, que já tinha apanhado o
papagaio. Botaram a fugir logo, e os portões do jardim fecharam-se de repente e
só apanharam uma pontinha da aba do casaco de um deles.
A criada bruxa tinha no entretanto ido ter com a menina, e falou-lhe em certas
maravilhas da Árvore que bota sangue e da Água de mil fontes. A menina pediu
aos irmãos estas coisas, que eram para enfeitar os jardins do seu palácio. Cada
um foi lá por sua vez e lá ficaram ambos encantados. Quando a menina viu que
não tornavam, disse muito triste:
— Valha-me aqui a nossa pobrezinha.
Apareceu-lhe logo Nossa Senhora, que lhe ensinou como havia de ir ao jardim,
e desencantar os irmãos, e enfrascar a Água de mil fontes e cortar o ramo da
Árvore que deitava sangue. Ela fez tudo, mas era preciso, que por mais barulho
que ouvisse nunca olhasse para trás, senão ficava também encantada. Quando
vinha com os irmãos e com as coisas que eles tinham ido buscar, era muito o
barulho de vozes e só ao sair da porta é que deu um jeitinho à cabeça para ver
para trás, mas foi o bastante para lhe ficarem presos os cabelos. Os irmãos foram
buscar umas tesouras, e voltaram depois todos para o seu palácio defronte do rei.
Quando o rei aparecia à janela o papagaio não fazia senão rir. O rei convidou os
meninos para um banquete e pediu que levassem o papagaio.
Os meninos foram, mas ao passarem pela mulher que estava enterrada até à
cinta não quiseram cuspir nela. O rei teimou, mas não conseguiu nada. Foram
para a mesa; uma das irmãs da rainha é que trinchava, e tinha botado resalgar na
sopa dos meninos. O papagaio avisou-os:
— Meninos, não comam, que tem veneno.
O rei ficou desconfiado, e perguntou aos meninos porque não comiam; disseram
eles:
— Falta aqui uma pessoa; é aquela mulher que está enterrada até à cinta no
pátio do palácio.
Disse o papagaio:
— Mande-a o rei vir, porque ela é a mãe destes meninos.
O rei mandou vir a mulher; e disse-lhe o papagaio:
— Sente-a agora ao seu lado; olhe que ela é sua mulher.
E contou como é que as cunhadas do rei tinham mandado botar ao rio em
canastrinhas os três meninos, e tinham posto em seu lugar os cães; e se se
quisesse confirmar, que visse se os meninos tinham na testa as estrelinhas. Os
meninos tiraram as carapucinhas, e o rei conheceu-os, e abraçou a sua mulher; e
mandou que as cunhadas comessem a comida envenenada, e logo ali
arrebentaram.
(Airão — Minho)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.


27 abril, 2022

CONTOS TRADICIONAIS ILUSTRADOS (O REI DE NÁPOLES)


    A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro continua a divulgar a interpretação visual de contos e lendas tradicionais, em trabalhos realizados em parceria entre a biblioteca escolar e a disciplina de Educação Visual. Hoje é o desenho de Lua Brennan, do 8ºA1,  que nos mostra a ilustração de um conto tradicional da Ilha de S. Miguel — Açores.

O REI DE NÁPOLES

Um rei tinha um filho, e como era o único, queria que ele se casasse; mas o
príncipe respondia-lhe sempre que não se casaria senão com uma filha do rei de
Nápoles se ele tivesse alguma.
O príncipe tratou logo de indagar bem se o rei de Nápoles tinha alguma filha;
mas não achava pessoa que lhe desse a certeza. Depois de muitas indagações
partiu para Nápoles, e armou-se a deitar um pregão, dizendo que dava esmolas
a todos os velhos que quisessem lá ir. Era para ver se algum lhe dava notícias se o
rei tinha alguma filha. Todos com quem ele falava lhe diziam que tinham sido
nados e criados e que tal coisa nunca tinham ouvido. Indo um dia à esmola a casa
do príncipe uma velha, perguntou-lhe se ela sabia de o rei ter alguma filha?
Respondeu a velha:
— Oh senhor, eu aqui nasci e daqui sou, mas nunca ouvi de ele ter nenhuma
filha. Agora, passando eu o outro dia por uma esquina do palácio, vi de dentro de
uma fresta uma cara tão linda, que me pareceu ser de princesa. Mas não posso
dar maior certeza.
O príncipe prometeu à velha de lhe pagar bem, se ela descobrisse que era a
princesa. Um dia indo a velha pela esquina, viu à fresta a tal cara linda e
chamou-a para lhe vir falar. Ela veio; perguntou-lhe a velha se queria comprar
joias, que sabia quem as tinha bem boas.
A princesa disse que sim, e combinou a hora em que iriam ter à fresta. A velha
foi muito contente dizer tudo ao príncipe. Como tinha visto a princesa, que
tinha falado com ela, e combinado a hora de ele ir com as joias. O príncipe
vestiu-se em trajo de adelo, e chegou à esquina a apregoar joias.
Neste tempo ouve uma voz, que vinha da fresta, chamar:
— Ó homem das joias!
O príncipe voltou para trás muito contente, e a princesa disse-lhe que entrasse
por aquela escadinha. Assim fez; mostrou-lhe as joias, ela estava satisfeita, e
disse depois de escolher:
— Vamos agora ao preço.
— Se a senhora está contente com essas, em casa tenho outras ainda melhores, e
trago-as cá amanhã.
Quando chegou a casa a velha aconselhou-o a que vestisse por baixo os seus
fatos de príncipe, e por cima com o trajo de vendilhão das joias, para quando
chegasse às escadinhas despir-se e falar à princesa como quem era. Assim fez; a
princesa quando o viu feito príncipe assustou-se; mas ele expôs-lhe a sua prática
e a diligência que tinha feito para chegar àquele lugar, e que o seu sentido era
casar com ela.
A princesa aceitou o pedido, e assentou a hora da noite muito em segredo em
que ele a iria buscar, porque o rei seu pai não queria que ela se casasse. O
príncipe, pelo muito desejo que tinha de a ir buscar, foi logo de serão para o
lugar da escadinha; mas cansado de esperar, encostou o cotovelo sobre a sela do
cavalo e pegou a dormir.
Neste tempo passou um homem de meia-tigela pelo pé do príncipe, e quis ver se
o conhecia; nisto ouviu uma voz que dizia:
— Vamos, vamos! que já está o escaler na água à nossa espera.
O tal homem viu descer uma donzela muito linda, e pegou nela com toda a
riqueza que trazia; meteram-se no escaler e partiram.
O pobre do príncipe ficou ali até amanhecer. Quando acordou julgou que a
princesa o tinha enganado, e foi para outra terra, e quando lá chegou começou
outra vez a dar esmolas aos pobres para descobrir por algum se o rei de Nápoles
tinha alguma filha.
A princesa, quando amanheceu, que se viu com aquele homem, disse consigo:
— A primeira vista não é vista; mas isto não é o príncipe meu senhor.
O ladrão do homem, como a via desgostosa, perguntou-lhe:
— Sabe a menina com quem vai?
— Com o príncipe meu senhor.
— Pois saiba que vai com um ladrão.
A princesa começou a chorar, e foram andando, andando e chegaram lá a uma
terra chamada das Junqueiras.
Ele varou a lancha, deixou ficar ali a princesa e foi-se embora; havia ali só uma
mulher viúva com a sua filha.
A princesa ficou a chorar muito naquele escampado, por se ver sozinha, e tudo
isto era de noite. Disse a filha à mãe:
— Estou ouvindo chorar; e parece-me ser mulher.
— Não, filha; isso podem ser os ladrões, para nos enganarem e virem roubarnos.
Tornou a dizer a filha:
Será tudo o que Deus quiser;
Mas aquele chorar é de mulher.
Foram ambas, e deram com a princesa, que elas não conheciam, e tomaram-na
para a sua companhia.
O príncipe continuava a dar esmolas aos pobres, e perguntava a todos se o rei de
Nápoles tinha alguma filha. Todos diziam que não, que nunca tal tinham
ouvido.
Afinal foi lá um velho e fez-lhe esmola, e repetiu a pergunta do costume; o velho
respondeu:
— Se o senhor soubesse o que eu passei com ela! sempre se havia de rir um
bocado.
O príncipe puxa uma cadeira e senta o velho ao pé de si. O velho contou:
— Eu vinha um dia do jogo das távolas; e passei pelo palácio do rei; estava lá
numa esquina um cavaleiro dormindo, por sinal com o cotovelo na sela do
cavalo; fui ao pé dele para ver se o conhecia, e a este tempo ouvi dizer: «Vamos!
que já está o escaler na água à nossa espera.»
E foi contando tintim por tintim o caso do roubo da princesa até a ir deitar na
terra das Junqueiras.
Assim que chegou a este ponto, o príncipe não se teve em si, puxa de um punhal
e crava-o na cabeça do velho e matou-o. Os outros velhos que estavam ali,
gritaram logo:
— Aqui d'el-rei, que mataram o nosso irmão.
Acudiu logo a Justiça para levarem o príncipe para o Limoeiro; chegou o dia em
que ia a enforcar, e ele pediu mais uma hora de vida. Chamou um dos homens
que ali estava, que fosse ao palácio pedir ao rei um livro de pastas vermelhas, que
estava à cabeceira do príncipe. O rei assim que ouviu isto deu-lhe um baque o
coração, e conheceu que só o príncipe é que podia fazer aquele pedido. E como
já havia muitos anos andava ausente do reino, foi ver se seria ele; meteu-se na
carruagem e foi ter com ele, trouxe logo para o palácio o filho, que lhe contou
todos os seus trabalhos:
— Agora, meu pai, dê-me licença para ir à terra das Junqueiras buscar a princesa.
O pai mandou aprontar uma das melhores naus, e o príncipe assim que chegou à
terra das Junqueiras e viu uma casinha, bateu e quem lhe veio falar foi a dona. Às
perguntas do príncipe, disse que morava com duas filhas. O príncipe disse se ela
dava licença, que as queria ver. E ela disse, que não tinham roupinha capaz de
aparecerem a Sua Alteza. Tanto teimou que elas apareceram, e o príncipe logo a
reconheceu, e disse que ia por causa dela, para a levar para o palácio. A princesa
disse que estava bem, e que para enganos só bastava uma vez. Ele disse que
levaria também para o palácio as suas companheiras, que seriam tratadas como
pessoas reais. Foram-se embora e casaram, e ficaram vivendo todos como Deus
com os anjos.

(Ilha de S. Miguel — Açores)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.




24 abril, 2022

CONTOS TRADICIONAIS ILUSTRADOS ( O PEIXINHO ENCANTADO )


    A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro continua a promover a ilustração como forma de interpretação da leitura e manifestação da expressão plástica. No projeto Lendas Lidas e Ilustradas Inês Rita do 8ºA1, foi a jovem que ilustrou mais um conto tradicional do Algarve que Teófilo Braga registou na sua obra Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1. Deixamos aqui a ilustração e a respetiva história.

O PEIXINHO ENCANTADO  

    Era uma pobre mulher, que tinha um único filho, e demais parvo, e não queria
trabalhar. Coitadinha, não lhe servia senão para comer. Um dia que ia para o
mato buscar lenha viu um rapazinho da vizinhança, ela pediu-lhe para que levasse
consigo o tolinho, e lhe ensinasse a fazer um peixinho. Quando chegaram ao
monte, o rapaz foi cortar dois molhos de lenha, e o parvo pôs-se a brincar ao pé
de uma ribeira. Ali esteve sem pensar em nada, a ver os peixinhos na água; eis
senão quando salta um peixinho mesmo às abas do parvo, que lhe botou logo as
unhas. O peixinho assim que se viu nas mãos do parvo, disse-lhe
— Não me mates, que em paga, quando quiseres alguma coisa, basta dizeres:
«Peço a Deus e ao meu peixinho que me dê tal e tal, que tudo há de sair como
pedires.»
    O parvo, assustado, deixou o peixinho cair-lhe da mão, e logo desapareceu na
ribeira. O outro rapaz bem chamava por ele para vir erguer o seu molho; ele foi,
e quando viu que o molho era pesado disse:
— Peço a Deus e ao meu peixinho que me ponha a cavalo neste feixe de lenha.
Saltou para cima do molho, que o levou a galope pelo mato fora e por toda a
cidade até chegar a casa da mãe. O rei estava à janela do palácio, e ficou
admirado; chamou a filha:
— Vem ver o parvo a cavalo num feixe de lenha.
    A princesa desatou a rir, quando o viu; mas o parvo disse baixinho:
— Peço a Deus e ao meu peixinho, que a princesa tenha um menino meu.
    Tempo depois começou a princesa a padecer; todos os médicos foram de
opinião, que a princesa andava ocupada. O rei ficou desesperado e pedindo por
todos os santos à filha que lhe dissesse quem tinha sido o causador de uma tal
vergonha. A princesa jurava por tudo que não sabia explicar aquilo; o rei
mandou botar um pregão, de que quem viesse confessar que era pai do menino
casaria com a princesa.
    Depois de tempo, veio o parvo ao palácio para falar ao rei:
— Venho dizer a Vossa Real Majestade que eu é que sou o pai do menino da
princesa.
    O rei ficou espantado, a princesa não compreendia o que estava ouvindo. O
parvo contou então o acontecido. O rei para se confirmar, disse-lhe:
— Pois pede ao teu peixinho que te faça aparecer agora aqui muito dinheiro.
O dinheiro caiu-lhe de todos os lados.
— Pede agora ao teu peixinho que te faça um moço muito perfeito e esperto.
    O parvo ficou desde logo mais formoso que todos os príncipes; casou com a filha do rei, e pela sua grande esperteza ficou governando.
(Algarve)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.




23 abril, 2022

CONTOS TRADICIONAIS ILUSTRADOS ( O SAL E A ÁGUA)


    Uma boa leitura depende da compreensão do leitor e da interpretação da informação contida no texto. Com o Projeto Lendas Lidas e Ilustradas, a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro pretendeu promover a descodificação visual de leituras, associando a disciplina de Educação Visual à interpretação de contos tradicionais. Aqui fica o trabalho de Arilson Tomás do 8ºA1 sobre o conto O Sal e a Água.

O SAL E A ÁGUA

Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais
sua amiga? A mais velha respondeu:
— Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
— Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais moça respondeu:
— Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como as outras,
e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio
de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel
muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno e de
grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel.
Todas quiseram ver se o anel lhes servia; foi passando, até que foi chamada a
cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo
apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a
vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O
rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que
queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas do noivado
convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A
princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu
pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei
convidado é que nada comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é
que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da
filha:
— É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer
porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de
princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa,
por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que
lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se
queixara da injustiça de seu pai.
(Porto)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.


21 abril, 2022

CONTOS TRADICIONAIS ILUSTRADOS (AS CRIANÇAS ABANDONADAS)

    
    Criar imagens, desenhos, pinturas ou quaisquer representações gráficas que procurem transmitir uma mensagem, contar uma história ou contribuir para a construção de significados, é o que se pretende com os trabalhos dos jovens ilustradores nos projetos Lendas Lidas e Ilustradas  e Contos tradicionais ilustrados da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, associado à ilustração de contos tradicionais integrado no desafio do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares,
Hoje temos a interpretação gráfica de Luna Soares do 8ºA1, do conto As crianças abandonadas.
Mais uma vez agradecemos a adesão de alunos e professores ao desafio lançado pela biblioteca escolar.

AS CRIANÇAS ABANDONADAS

    
Um pobre homem casado tinha muitos filhos, sem ter que lhes dar a comer; de uma vez, quando os pequenos já estavam deitados, disse ele para a mulher:
— O melhor é levá-los comigo para o monte quando for à lenha, e deixá-los lá.
    O filho mais novo apanhou a conversa e levantou-se sorrateiro, e foi à ribeira e trouxe para casa muitos seixinhos. Ao outro dia pela madrugada o homem saiu com os filhos para o monte, e o mais novo foi espalhando os seixos pelo caminho.
    Ao cair da tarde o homem carregou a lenha e disse aos filhos que ficassem guardando o resto, que já vinha por eles. Mas, voltou o pai? Assim que anoiteceu, os pequenos começaram a chorar; ora o mais novo, disse:
— Eu sei o caminho.
    E foi procurando os seixinhos brancos que tinha deixado cair pelo caminho; o que é certo é que deu com o caminho de casa, mais os irmãos. Estava porta fechada e estava-se à ceia. Dizia a mulher:
— Está este caldinho tão bom. Quem me dera aqui agora os nossos filhos! Onde estarão a estas horas?
— Estamos aqui, mãezinha.
    A mãe foi abrir-lhes a porta. Passaram tempos, a pobreza aumentou, e o pai combinou outra vez em deixá-los no monte; assim fez. O pequeno apanhou a conversa, e desta vez, como não pôde ir buscar os seixos, encheu uma algibeira de tremoços, e foi-os espalhando. À noite quando o pai se veio embora, o pequeno começou a procurar os tremoços, e os pássaros tinham-nos comido, e não pôde achar o caminho. Ele mais os irmãozinhos perderam-se no descampado, até que foram dar a uma casa onde morava um homem ruim; a mulher assim que os viu, disse:
— Ai meninos, que vindes aqui fazer, que o meu homem come gente!
— O que nós queríamos era comer alguma coisinha, disse o mais esperto.
    Entraram; a mulher deitou os seus filhos em uma cama, e pôs-lhes umas
carapucinhas e levou os pequenos perdidos, para outra cama. O pequeno mais esperto não pregava olho, e lá pela noite adiante, viu entrar o homem ruim, de dentes arreganhados:
— Cheira-me aqui a gente nova!
    A mulher confessou-lhe tudo; ora o pequeno tinha ido tirar as carapucinhas aos outros e tinha-as metido nas cabeças dos irmãos e da sua. O homem mal passou pela cama das crianças, e pensando que eram os seus filhos foi ter à outra cama, e como os não viu com as carapucinhas, degolou-os logo a todos, e começou a comer neles. Os pequenos pelo aviso do irmão escapuliram-se, e quando já iam muito longe é que o homem ruim deu pelo engano; calçou umas botas de sete léguas, e tal passada deu que os pequenos lhe ficaram atrás; andou, andou e de cansado voltou a adormecer no caminho. O pequeno roubou-lhe as botas de sete léguas, e assim pôs-se a salvamento mais os irmãos, e como o rei tinha guerras muito longe, ele levava as ordens, e trazia as notícias, e assim ganhou muito dinheiro com que tirou toda a sua família da pobreza.

(Airão)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.





20 abril, 2022

Contos tradicionais ilustrados (CARPIDEIRA E A VIÚVA)


 
    A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro dá a conhecer  os Contos Tradicionais do Povo Português de Teófilo Braga, através da transposição das suas palavras para a ilustração livre e criativa realizada pelos alunos. Hoje é  o conto Carpideira e a Viúva que orienta o traço de Beatriz Peixoto, do 8º ano.

CARPIDEIRA E A VIÚVA

Como diz o outro: A viúva rica, por um olho chora e pelo outro repenica. Uma
viúva chamou uma mulher para vir fazer o pranto do costume pela morte do
marido. A carpideira começou a dar ais, e a arrepelar-se, e dizia na sua
caramunha:
Ai, ai, ai,
Quem lá vai, lá vai.
Passou uma mulher e perguntou-lhe o que é que ela estava a fazer; respondeu a
carpideira:
Estou a chorar
O marido alheio,
Por um alqueire
De centeio;
Não sei se mo dão
Meado ou cheio.
A anojada, que já não podia encobrir a satisfação de se achar livre do que a
tocava, começou aos saltos e a responder-lhe:
Há de ser calcado
E acuculado,
E ainda por cima
Mais um punhado;
Contanto que fique
Bem depenado.
A viúva depois ia para a igreja, e ajoelhava-se em cima da sepultura do marido, e
rezava, rezava; de uma vez puseram-se à escuta do que ela dizia, e ouviram esta
encomendação:
Aqui jazes e hás de jazer;
Padre-Nosso meu, nunca tu hás de ter.
E a água benta que te eu botar
Hei de ta mijar.
(Foz do Douro)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.


19 abril, 2022

CONTOS TRADICIONAIS ILUSTRADOS (A FEIA QUE FICA BONITA)

    Promover a leitura através da ilustração, levando o jovem leitor a descodificar o significado do texto lido e a expor visualmente a sua interpretação, foi um dos objetivos do projeto Lendas Lidas e Ilustradas da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, que integrou o desafio do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares com contos tradicionais. Associámos leituras da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro ao trabalho curricular de Educação Visual e obtivemos as nossas ilustrações. Agradecemos o entusiasmo com que o professor Fernando Trigo aderiu à proposta da biblioteca escolar.     

    Miguel Afonso do 8º A1 ilustrou o conto algarvio que Teófilo Braga registou na sua obra Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1. Deixamos aqui a ilustração e a respetiva história.

A FEIA QUE FICA BONITA

    Era uma vez uma velha, que tinha uma neta, que era feia como um bicho. A velha morava defronte do palácio do rei, e meteu-se-lhe em cabeça de vir a casar a neta com o rei. Lembrou-se de uma gíria. Todas as vezes que o rei saía a passeio, ao passar por diante da porta da velha, ela despejava para a rua uma bacia de água de cheiro, e dizia:
— A água em que a minha neta se lava cheira que rescende.
    Sucedeu isto assim tantas vezes, que o rei reparou para o caso, e pediu à velha que lhe deixasse ver a neta, que se lavava em água tão cheirosa. A velha escusou-se dizendo que não, porque a neta era muito vergonhosa, mas que tudo se arranjaria, porque assim que fosse noite iria com ela fazer uma visita, e por este engano a levaria ao palácio. Disse também ao rei que era a cara mais linda do mundo; o rei esperou que anoitecesse, até que ouviu o sinal combinado, e veio buscar a rapariga. A velha foi-se embora, pensando que o rei ficaria com a neta; quando o rei chegou ao seu quarto e acendeu a luz, deu com uma mulher feiíssima e desengraçada; ficou zangado com o logro, e na sua raiva despiu-a toda e fechou-a numa varanda ao relento da noite. A pobre rapariga não podia perceber a sua desgraça, e com o frio e com o medo da escuridão estava bem perto de morrer.
    Lá por essa meia-noite passou um grupo de fadas que andavam a distrair um príncipe que tinha perdido o riso; o príncipe assim que viu a rapariga nua desatou logo às gargalhadas. As fadas ficaram muito contentes, e quando viram que a causa fora aquela rapariga nua, negra e feia, disseram-lhe:
— Nós te fadamos, para que sejas a cara mais linda do mundo. Quando de madrugada o rei veio ver se a rapariga teria morrido, achou-a lindíssima, e ficou pasmado do seu engano. Pediu-lhe muito perdão, e rogou-lhe logo para casar com ela. Casaram e fizeram-se grandes festas. A velha avó, que morava defronte do palácio, soube que a nova rainha era a sua neta; foi ao palácio pedir para lhe dar uma fala. Chegou-se ao pé da neta e perguntou-lhe baixinho:
— Quem é que te fez tão bonita?
    A neta respondeu na sua boa verdade:
— Fadaram-me.
    Ora como a velha era algo surda, entendeu que lhe dizia: «Esfolaram-me.» O rei deu-lhe muito dinheiro assim que ela se despediu, e ela foi logo a casa de um barbeiro para que a esfolasse, porque queria ficar outra vez nova. O barbeiro não queria, ela deu-lhe todo o dinheiro que levava; por fim começou a esfolá-la, e a velha morreu no meio de grandes dores, pensando que ficaria bonita.
(Algarve)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990


















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