Talvez seja apenas o toque suave do
amanhecer,
Ou o bater revoltado porém relaxante das
ondas do mar,
Talvez seja o facto de tudo à minha
volta crescer,
E eu estar presa no mesmo lugar;
Tudo me deixa inquieta,
E tudo me deixa com vontade de voar,
Voar num sentido diferente,
Voar no sentido de fugir,
Voar no sentido de escapar;
Gostava de controlar esta vontade
De ir para longe, onde apenas o
amanhecer ficará,
O amanhecer e o vento,
O vento e o mar,
O mar e a Terra,
Estes os únicos incapazes de me
torturar;
Todos à minha volta exigem mais,
Mas ninguém tenta pôr-se no meu lugar;
A tranquilidade do sol, faz-me
mergulhar,
Mergulhar no meu próprio paraíso,
Onde apenas fico eu e o magnifico
rebentar das ondas
Não posso pedir mais,
Porque um pouco de paz é tudo o que eu
preciso;
Às vezes é mais do que apenas difícil,
Quando todos te deixam para trás
Por mais que tu supliques por nada mais
que uma mão amiga,
Pronta para te ajudar;
Talvez não seja a dor constante que se
apodera de mim,
Mas a falta dela no resto das pessoas,
Esta insensibilidade do mundo
Magoa-nos a todos mutuamente;
Estou farta de me refugiar nas minhas
palavras secretas,
O meu caderno parece ser a minha droga,
Mas já me faltam poucas páginas por
escrever,
Por mais que aperte a letra, sei que não
vai caber,
Outro facto que me apavora;
Continuo sozinha por agora,
E parece eterno,
Todos os que me amam estão fora,
Longe deste inferno;
Volto a caminhar pelas praias desertas,
Apaixono-me mais uma vez pelo som suave
do mar,
Sinto-me mais acompanhada quando o vento
me persegue,
Pela primeira vez não há rochas que me
façam tropeçar;
Personalizo tudo na minha mente,
Não crio um sítio perfeito,
Apenas imagino outro meio ambiente;
Passam borboletas coloridas por mim,
Fazem-me perguntar como é que existem
seres tão belos,
Irregulares e diferentes,
Mas tão inocentes e pequenos;
Diferentes da sociedade,
Que é grande e assustadora,
Livres das discriminações,
E ameaças do mundo de agora;
Sinto uma pontada de inveja a correr-me
pelo sangue,
Quando penso na liberdade delas,
Podem voar para onde querem,
Podem voar para terras paralelas,
Sem ninguém para as impedir,
Sem ninguém a tentar detê-las,
Como me acontece a mim,
Quando tento distanciar-me desta guerra
entre feras;
De monstros, de destruidores da
Natureza,
É do que este planeta está coberto,
De pessoas que não pensam primeiro,
Antes de acabar com tudo o que encontram
por perto,
Sento-me no meio da areia branca,
Evito pensar mais no assunto,
Mas continua a incomodar-me,
Como é que alguém é capaz de destruir
algo tão puro?
Deixo os meus dedos traçar linhas entre
as pedras minúsculas,
É tão valioso, é tão magnífico,
As diferentes cores de cada grãozinho de
areia,
As diferentes texturas e tamanhos;
Não há nada que eu possa fazer,
Nada que eu possa pedir,
Não posso apenas por tudo de parte
E gastar o meu tempo a discutir;
Não pela falta de vontade,
Mas pelo facto de ninguém me ouvir,
Ignorar é pior que odiar na minha
opinião,
Ignorar é ferir;
O brilhar do Sol ofusca-me a visão,
É tão forte, tão poderoso,
Será que mais ninguém vê o que eu vejo?
Têm de ver,
Não há maneira de evitar olhar para algo
tão precioso;
Chegou como chegava sempre,
A hora do fim;
Isto era o exemplo duma tarde agradável,
No meu entender,
Eu gosto do calmo, do simples,
Dos pequenos detalhes, impossíveis de
esquecer;
Pequenos detalhes como as pequenas
diferenças,
Nas asas das borboletas,
Ou as diferentes intensidades do vento;
As minhas mãos tremiam,
Não por mim mas pelo meu lar,
Porque esta praia deserta,
Era onde eu me sentia bem, onde eu
queria estar;
A caminho de casa senti um vento frio,
Vesti o casaco mas não passou,
Não ia passar;
Havia pessoas cruéis, e más;
E agora não me referia aos ladrões ou
assassinos,
Referia-me a todos,
Todos eramos no fundo, uns criminosos;
Crime era tratar o nosso planeta assim,
Crime era ignorar todos estes factos,
Crime era não ver os pequenos detalhes,
E não lutar para os manter intactos.
Poema vencedor do Concurso "Faça Lá Um Poema", 3º Ciclo,
Daniela
Jankovic, 9ºAno,Turma C, Nº 8, Escola B2,3 Ferreira de Castro