Blogue da Biblioteca Escolar da Escola Básica Ferreira de Castro - Sintra

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25 abril, 2024

Diana Andringa - Eu passei pelas cadeias da PIDE


    Os alunos do 9ºC2 e 9ºC3 também receberam a jornalista Diana Andringa. Convidada pela Biblioteca Escolar Ferreira de Castro e pelo professor João Correia, através da associação cultural CULTRA, e no âmbito dos Debates de Abril nas escolas, a detida pela PIDE, vem testemunhar a sua experiência de ser presa 20 meses sem provas  e sem direito a defesa, como ocorria no Estado Novo.


    Diana Andringa nascida em 1947, no Dundo, Lunda-Norte, Angola, e vindo para Portugal em 1958, foi acusada, entre outras acusações, em 1970, de ser simpatizante da linha política de ação violenta do MPLA, ser partidária da independência da província ultramarina de Angola, e acusada de doutrinar, quer por palavras quer por documentação panfletária, os indivíduos com quem teria contactado.

    Uma vez que não fazia parte de nenhuma organização e não tinha qualquer relevância política, nem informações importantes, Diana Andringa nunca pensara que fosse levada do seu local de trabalho, interrogada e detida em Caxias, e julgada catorze meses após ter sido presa.

    Com os nossos alunos, Diana Andriga partilha a sua experiência, fala da sua cela em Caxias e de tudo o que viu e viveu. Não tendo sido torturada como tantos outros, nem deportada sem julgamento para o Tarrafal, pôde no entanto testemunhar como funcionavam os órgãos repressivos do Estado Novo.














23 abril, 2024

Diana Andringa - Eu passei pelas cadeias da PIDE


    A associação cultural CULTRA, em parceria com várias entidades do movimento associativo e cultural, grupos de teatro, cineastas, unidades de investigação académica e investigadores, ex-presas e presos políticos, ativistas sindicais e políticos do período revolucionário, mulheres e homens de todas as correntes da resistência antifascista e dos combates da Revolução, leva a cabo um largo conjunto do iniciativas para assinalar o cinquentenário do 25 de Abril e da Revolução portuguesa de 1974/1975.Nesse sentido, levam-se os Debates de Abril às escolas. Foi neste âmbito que a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, com a participação do professor João Correia, a quem desde já agradecemos, recebeu a jornalista e dirigente sindical Diana Andringa.
    Aos alunos do 9º B1 e 9ºC1, foi possível ouvir o testemunho de alguém que passou pelas cadeias da PIDE. 

Diana Andringa nasceu em 1947, no Dundo, Lunda-Norte, Angola, vindo para Portugal em 1958. Em 1964 ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa, que abandonou para se dedicar ao jornalismo. Em 1968, frequentou o 1º Curso de Jornalismo criado pelo Sindicato dos Jornalistas e entrou para a Vida Mundial, de onde saíu no âmbito de uma demissão coletiva. Desempregada, foi copy-writer de publicidade, trabalho que a prisão pela PIDE, em janeiro de 1970, interrompeu, condenada a 20 meses de prisão por apoio à causa da independência de Angola.
De 1978 a 2001 foi jornalista na RTP. Foi também cronista no Diário de Notícias, na RDP e no Público e fugaz diretora adjunta do Diário de Lisboa. Atualmente documentarista independente - Timor-Leste, O sonho do Crocodilo; Guiné-Bissau: As duas Faces da Guerra; Dundo, Memória colonial, Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta - regressou à Universidade, doutorando-se em Sociologia da Comunicação pelo ISCTE em 2013.
https://ces.uc.pt/pt/ces/pessoas/investigadoras-es/diana-andringa

    Com interesses na investigação sobre Memória da Tortura em Portugal e Colónias (1926-1974), Diana Andringa partilha com os nossos alunos a sua experiência nas prisões da PIDE. Detida em Caxias, mesmo não tendo sofrido as torturas e outras formas de violência a que a maioria das suas companheiras foi sujeita, o isolamento  no espaço de uma cela com outras prisioneiras , foi uma experiência inesquecível, e partilhada nesta sessão.

São de Diana Andringa os excertos  que transcrevemos:

Na primeira sala onde fui colocada na António Maria Cardoso travei conhecimento com o Inspector Tinoco. “Com que então, distribuição de propaganda subversiva em Luanda!”, disparou, ameaçador. Teve azar: revelou a fragilidade da informação policial. Eu nunca estivera mais do que alguns dias em Luanda, a última das quais com onze anos. “Não me lembro – e, se a fiz, o crime já deve ter prescrito”, respondi. Abandonou a sala.
(...)
Entro na cela: do lado esquerdo, uma cama de ferro, uma mesa de pedra presa à parede, uma cadeira; do lado direito um armário e a casa de banho. Ao fundo, a janela, de grades duplas. Nada que se compare ao exíguo espaço dos curros do Aljube, onde passaram diversos amigos meus.
(...)
Durante a noite, por mais de uma vez, o postigo abriu-se e houve uma lanterna apontada na minha direcção. A polícia não gosta que os seus presos se evadam pela via do suicídio.
(...)
No julgamento, catorze meses depois desse 27 de Janeiro, os juízes condenaram-me a 20 meses de prisão.
(...)
Acórdão, proferido a 30 de Março de 1971 pelos juízes do Tribunal Plenário de Lisboa, Fernando António Morgado Florindo, Bernardino Rodrigues de Sousa e João de Sá Alves Cortês:
“A ré é simpatizante da linha política de acção violenta do MPLA, concordando com a formação de actuação do mesmo, cujos estatutos e programa aprova. Partidária da independência da província ultramarina de Angola, tem procurado doutrinar, quer por palavras quer por documentação panfletária, os indivíduos com quem tem contactado, sobretudo ultramarinos, e, para a consecução dos fins do MPLA, com plena consciência dos mesmos, promoveu o encontro entre os réus Álvaro e Maria José, nesta cidade, para que aquele fizesse seguir por esta, para o estrangeiro, uma carta-mensagem destinada ao comité-director do movimento, encontro efectuado depois de de 15 de Agosto de 1969.
(...)
Prestou ao réu Rui não só apoio mas colaboração e auxílio nas actividades a favor do MPLA, fornecendo-lhe algumas fotografias de líderes revolucionários e literatura de carácter revolucionário e acompanhando-o na escolha e compra de outra em diversas livrarias, tudo para a consecução dos fins do movimento.
(...)
Entregou ainda ao Rui uma caixa de folhas de papel stencyl que tinha em sua casa e fê-lo com pleno conhecimento de que o mesmo ia ser utilizado para policopiar propaganda clandestina.”
(...)
Envelheci muito nesses vinte meses. Mas nem tudo foi negativo. Como recordou, há alguns meses, um antigo preso político cabo-verdiano que passou três anos no Tarrafal, na cadeia aprendíamos a conhecer-nos e a conhecer melhor as razões da nossa luta. Ou, pedindo de novo ajuda às palavras de outros, a saber para sempre que os nossos cantares não podem ser sem pecado um adorno, e que lutar é apenas ter uma fiel dedicação à honra de estar vivo.
https://caminhosdamemoria.wordpress.com/2010/01/27/27-de-janeiro-de-1970-relato-de-uma-prisao-atipica/