Promover a leitura através da ilustração, levando o jovem leitor a descodificar o significado do texto lido e a expor visualmente a sua interpretação, foi um dos objetivos do projeto Lendas Lidas e Ilustradas da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, que integrou o desafio do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares com contos tradicionais. Associámos leituras da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro ao trabalho curricular de Educação Visual e obtivemos as nossas ilustrações. Agradecemos o entusiasmo com que o professor Fernando Trigo aderiu à proposta da biblioteca escolar.
Miguel Afonso do 8º A1 ilustrou o conto algarvio que Teófilo Braga registou na sua obra Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1. Deixamos aqui a ilustração e a respetiva história.
A FEIA QUE FICA BONITA
A FEIA QUE FICA BONITA
Era uma vez uma velha, que tinha uma neta, que era feia como um bicho. A velha morava defronte do palácio do rei, e meteu-se-lhe em cabeça de vir a casar a neta com o rei. Lembrou-se de uma gíria. Todas as vezes que o rei saía a passeio, ao passar por diante da porta da velha, ela despejava para a rua uma bacia de água de cheiro, e dizia:
— A água em que a minha neta se lava cheira que rescende.
Sucedeu isto assim tantas vezes, que o rei reparou para o caso, e pediu à velha que lhe deixasse ver a neta, que se lavava em água tão cheirosa. A velha escusou-se dizendo que não, porque a neta era muito vergonhosa, mas que tudo se arranjaria, porque assim que fosse noite iria com ela fazer uma visita, e por este engano a levaria ao palácio. Disse também ao rei que era a cara mais linda do mundo; o rei esperou que anoitecesse, até que ouviu o sinal combinado, e veio buscar a rapariga. A velha foi-se embora, pensando que o rei ficaria com a neta; quando o rei chegou ao seu quarto e acendeu a luz, deu com uma mulher feiíssima e desengraçada; ficou zangado com o logro, e na sua raiva despiu-a toda e fechou-a numa varanda ao relento da noite. A pobre rapariga não podia perceber a sua desgraça, e com o frio e com o medo da escuridão estava bem perto de morrer.
Lá por essa meia-noite passou um grupo de fadas que andavam a distrair um príncipe que tinha perdido o riso; o príncipe assim que viu a rapariga nua desatou logo às gargalhadas. As fadas ficaram muito contentes, e quando viram que a causa fora aquela rapariga nua, negra e feia, disseram-lhe:
— Nós te fadamos, para que sejas a cara mais linda do mundo. Quando de madrugada o rei veio ver se a rapariga teria morrido, achou-a lindíssima, e ficou pasmado do seu engano. Pediu-lhe muito perdão, e rogou-lhe logo para casar com ela. Casaram e fizeram-se grandes festas. A velha avó, que morava defronte do palácio, soube que a nova rainha era a sua neta; foi ao palácio pedir para lhe dar uma fala. Chegou-se ao pé da neta e perguntou-lhe baixinho:
— Quem é que te fez tão bonita?
A neta respondeu na sua boa verdade:
— Fadaram-me.
Ora como a velha era algo surda, entendeu que lhe dizia: «Esfolaram-me.» O rei deu-lhe muito dinheiro assim que ela se despediu, e ela foi logo a casa de um barbeiro para que a esfolasse, porque queria ficar outra vez nova. O barbeiro não queria, ela deu-lhe todo o dinheiro que levava; por fim começou a esfolá-la, e a velha morreu no meio de grandes dores, pensando que ficaria bonita.
(Algarve)
Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990
.
Sem comentários:
Enviar um comentário