Criar imagens, desenhos, pinturas ou quaisquer representações gráficas que procurem transmitir uma mensagem, contar uma história ou contribuir para a construção de significados, é o que se pretende com os trabalhos dos jovens ilustradores nos projetos Lendas Lidas e Ilustradas e Contos tradicionais ilustrados da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, associado à ilustração de contos tradicionais integrado no desafio do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares,
Hoje temos a interpretação gráfica de Luna Soares do 8ºA1, do conto As crianças abandonadas.
Mais uma vez agradecemos a adesão de alunos e professores ao desafio lançado pela biblioteca escolar.
AS CRIANÇAS ABANDONADAS
Um pobre homem casado tinha muitos filhos, sem ter que lhes dar a comer; de uma vez, quando os pequenos já estavam deitados, disse ele para a mulher:
— O melhor é levá-los comigo para o monte quando for à lenha, e deixá-los lá.
O filho mais novo apanhou a conversa e levantou-se sorrateiro, e foi à ribeira e trouxe para casa muitos seixinhos. Ao outro dia pela madrugada o homem saiu com os filhos para o monte, e o mais novo foi espalhando os seixos pelo caminho.
Ao cair da tarde o homem carregou a lenha e disse aos filhos que ficassem guardando o resto, que já vinha por eles. Mas, voltou o pai? Assim que anoiteceu, os pequenos começaram a chorar; ora o mais novo, disse:
— Eu sei o caminho.
E foi procurando os seixinhos brancos que tinha deixado cair pelo caminho; o que é certo é que deu com o caminho de casa, mais os irmãos. Estava porta fechada e estava-se à ceia. Dizia a mulher:
— Está este caldinho tão bom. Quem me dera aqui agora os nossos filhos! Onde estarão a estas horas?
— Estamos aqui, mãezinha.
A mãe foi abrir-lhes a porta. Passaram tempos, a pobreza aumentou, e o pai combinou outra vez em deixá-los no monte; assim fez. O pequeno apanhou a conversa, e desta vez, como não pôde ir buscar os seixos, encheu uma algibeira de tremoços, e foi-os espalhando. À noite quando o pai se veio embora, o pequeno começou a procurar os tremoços, e os pássaros tinham-nos comido, e não pôde achar o caminho. Ele mais os irmãozinhos perderam-se no descampado, até que foram dar a uma casa onde morava um homem ruim; a mulher assim que os viu, disse:
— Ai meninos, que vindes aqui fazer, que o meu homem come gente!
— O que nós queríamos era comer alguma coisinha, disse o mais esperto.
Entraram; a mulher deitou os seus filhos em uma cama, e pôs-lhes umas
carapucinhas e levou os pequenos perdidos, para outra cama. O pequeno mais esperto não pregava olho, e lá pela noite adiante, viu entrar o homem ruim, de dentes arreganhados:
— Cheira-me aqui a gente nova!
A mulher confessou-lhe tudo; ora o pequeno tinha ido tirar as carapucinhas aos outros e tinha-as metido nas cabeças dos irmãos e da sua. O homem mal passou pela cama das crianças, e pensando que eram os seus filhos foi ter à outra cama, e como os não viu com as carapucinhas, degolou-os logo a todos, e começou a comer neles. Os pequenos pelo aviso do irmão escapuliram-se, e quando já iam muito longe é que o homem ruim deu pelo engano; calçou umas botas de sete léguas, e tal passada deu que os pequenos lhe ficaram atrás; andou, andou e de cansado voltou a adormecer no caminho. O pequeno roubou-lhe as botas de sete léguas, e assim pôs-se a salvamento mais os irmãos, e como o rei tinha guerras muito longe, ele levava as ordens, e trazia as notícias, e assim ganhou muito dinheiro com que tirou toda a sua família da pobreza.
Um pobre homem casado tinha muitos filhos, sem ter que lhes dar a comer; de uma vez, quando os pequenos já estavam deitados, disse ele para a mulher:
— O melhor é levá-los comigo para o monte quando for à lenha, e deixá-los lá.
O filho mais novo apanhou a conversa e levantou-se sorrateiro, e foi à ribeira e trouxe para casa muitos seixinhos. Ao outro dia pela madrugada o homem saiu com os filhos para o monte, e o mais novo foi espalhando os seixos pelo caminho.
Ao cair da tarde o homem carregou a lenha e disse aos filhos que ficassem guardando o resto, que já vinha por eles. Mas, voltou o pai? Assim que anoiteceu, os pequenos começaram a chorar; ora o mais novo, disse:
— Eu sei o caminho.
E foi procurando os seixinhos brancos que tinha deixado cair pelo caminho; o que é certo é que deu com o caminho de casa, mais os irmãos. Estava porta fechada e estava-se à ceia. Dizia a mulher:
— Está este caldinho tão bom. Quem me dera aqui agora os nossos filhos! Onde estarão a estas horas?
— Estamos aqui, mãezinha.
A mãe foi abrir-lhes a porta. Passaram tempos, a pobreza aumentou, e o pai combinou outra vez em deixá-los no monte; assim fez. O pequeno apanhou a conversa, e desta vez, como não pôde ir buscar os seixos, encheu uma algibeira de tremoços, e foi-os espalhando. À noite quando o pai se veio embora, o pequeno começou a procurar os tremoços, e os pássaros tinham-nos comido, e não pôde achar o caminho. Ele mais os irmãozinhos perderam-se no descampado, até que foram dar a uma casa onde morava um homem ruim; a mulher assim que os viu, disse:
— Ai meninos, que vindes aqui fazer, que o meu homem come gente!
— O que nós queríamos era comer alguma coisinha, disse o mais esperto.
Entraram; a mulher deitou os seus filhos em uma cama, e pôs-lhes umas
carapucinhas e levou os pequenos perdidos, para outra cama. O pequeno mais esperto não pregava olho, e lá pela noite adiante, viu entrar o homem ruim, de dentes arreganhados:
— Cheira-me aqui a gente nova!
A mulher confessou-lhe tudo; ora o pequeno tinha ido tirar as carapucinhas aos outros e tinha-as metido nas cabeças dos irmãos e da sua. O homem mal passou pela cama das crianças, e pensando que eram os seus filhos foi ter à outra cama, e como os não viu com as carapucinhas, degolou-os logo a todos, e começou a comer neles. Os pequenos pelo aviso do irmão escapuliram-se, e quando já iam muito longe é que o homem ruim deu pelo engano; calçou umas botas de sete léguas, e tal passada deu que os pequenos lhe ficaram atrás; andou, andou e de cansado voltou a adormecer no caminho. O pequeno roubou-lhe as botas de sete léguas, e assim pôs-se a salvamento mais os irmãos, e como o rei tinha guerras muito longe, ele levava as ordens, e trazia as notícias, e assim ganhou muito dinheiro com que tirou toda a sua família da pobreza.
(Airão)
Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.
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