Continuamos a partilhar alguns artigos que possam ser úteis nas férias em família, que se aproximam.
Para as crianças, as leituras de férias devem estar associadas ao tempo livre, à partilha de experiências com a família e amigos, ao usufruir das coisas significativas da vida. Esqueça, por umas semanas, os programas e as metas escolares. A meta mais importante passa por se conhecerem, ter curiosidade por tudo e procurar ligações menos óbvias na diversidade do mundo. Os bons livros fazem parte do caminho.
Carla Maia de Almeida
1. Prepare uma ida à livraria
Antes das férias, há um sentimento colectivo de entusiasmo, novidade e expectativa. Estes momentos têm sempre mais impacto e adesão emocional quando são acompanhados por rituais. Ir a uma livraria (e não a um hipermercado...) com o propósito único de escolher um livro para as férias pode ser uma festa. Com as crianças, marque um dia, uma hora, uma loja. A aventura começa aí.
2. Saiba quais são os interesses delas
Muitos adultos queixam-se de que as crianças não leem, ou não leem o suficiente. Há uma abordagem que costuma resultar: dar-lhes livros que vão ao encontro dos seus interesses e gostos. Futebol? Pintura? História? Ciência? Matemática? Egiptologia? Animais? Invenções? Magia? Tubarões?... Existem livros sobre tudo. Evite, durante algum tempo, a tentação de pensar que há temas «maiores» e «menores».
3. Escolha livros de que também goste
As crianças devem ser encorajadas a escolher os seus livros, mas os adultos têm uma palavra a dizer. Um bom livro para crianças é aquele de que os adultos também gostam; de outro modo, que sentido faz a leitura partilhada? Há autores que agradam a ambos os lados: Roald Dahl, Oliver Jeffers, Emily Gravett, Judith Viorst, Lewis Carroll, Saint-Exupéry e muitos outros. Pode-se escolher um livro pelo autor, pelo tema, pelas ilustrações, pelo texto, pela coleção, pela editora... Tudo isso são critérios. Mas a responsabilidade de uma escolha acertada – que nem sempre é possível – cabe ao adulto. Ao selecionar um livro, convoque os seus valores, a sua informação, a sua sabedoria e experiência de vida.
4. Evite os lugares previsíveis
Se durante o resto do ano costuma ler-lhes uma história antes de adormecerem, as férias são a oportunidade para quebrar a rotina. Explore outros lugares, fuja dos horários certos, associe a leitura aos cinco sentidos. Não lemos só «do pescoço para cima». Partilhar um livro na praia, debaixo de um guarda-sol, enquanto se espera pela hora do banho, pode ter um efeito duradouro na memória dos pequenos leitores.
5. Leiam juntos e em voz alta
Os bons livros para crianças têm ritmo e musicalidade na leitura em voz alta. Esta é uma característica que os distingue dos livros «para os adultos». Ler em voz alta não é só para bebés e pré-leitores. É para todos. A voz humana chama emoções e um sentido de comunidade e pertença à família. Como escreveu Rodolfo Castro, escritor e contador de histórias, «ler em voz alta é fazer ressoar o nosso interior».
6. Explore outros géneros literários
As crianças não resistem a uma boa história, mas as leituras de férias podem arriscar outros géneros literários. Porque não explorar um atlas, um guia de viagem, um livro informativo sobre... florestas tropicais? Se quiser ir mais longe, «leia» um álbum sem texto. Raymond Briggs, Istvan Banyai e Thé Tjong-Khing estão entre os autores que construíram belas narrativas só com imagens. Deixe que sejam as crianças a contar a história.
7. Dê-lhes o direito de não acabar o livro
Faz parte dos dez direitos do leitor, segundo o best-seller de Daniel Pennac: «o direito de não acabar o livro». As férias são um tempo de liberdade, de alegria e vitalidade. Usar a leitura como castigo («Se não acabares esse livro não te compro outro») ou como meio para chegar a um fim («Se vieres para a mesa leio-te uma história») não é boa política. Porquê? Porque os adultos acabam por dar mais importância à educação do que à literatura. E isso é meio caminho andado para não escolher os melhores livros.
Carla Maia de Almeida
Escritora e jornalista, escreve atualmente na revista LER sobre livros infantojuvenis, área em que também faz traduções e formação. Licenciada e pós-graduada em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa, tem uma pós-graduação em Livro Infantil pela Universidade Católica Portuguesa. Para crianças, adolescentes (e leitores de todas as idades), publicou até agora doze livros, quase todos recomendados pelo Plano Nacional de Leitura. Desde 2008, escreve sobre livros infantojuvenis (e não só) no blogue O Jardim Assombrado.
https://www.portoeditora.pt/paisealunos/pais-and-alunos/
Sem comentários:
Enviar um comentário