Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de
Castro
Anoitecia. Nos topes da
serra ainda havia rósea claridade, mas cá em baixo, boiavam sombras cada vez
mais densas. Com suas altivas lombas, as ramificações da montanha cercavam, de
todas as bandas, a vila postada quase no fundo do grande vale, ao pé do Zêzere,
que na paz crepuscular adquiria voz forte, correndo e cantando entre os
penedais do seu leito. A luz parecia desprender-se, como um véu, da imensurável
cavidade, deixando ainda vermelhar a telha francesa das casas abastadas,
enquanto os negros telhados dos pobres se somavam já à escuridão que avançava.
Nas encostas, os pinheiros formavam mancha compacta e, nos vastos soutos, os
castanheiros, de arredondadas frontes, dir-se-iam sem troncos - apenas largas
copas pousadas nos penhores, como acampamento aguardando a noite”
Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
(BEFC 82-3 – CAS-LA)
pág.
23,24
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