Blogue da Biblioteca Escolar da Escola Básica Ferreira de Castro - Sintra

Aqui partilhamos tudo o que acontece na nossa Biblioteca.

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10 maio, 2022

Ferreira de Castro: ser escritor no Estado Novo (O Museu Aqui e Agora e o Futuro que Lá Mora)


    O nosso agrupamento, através da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, aderiu, neste ano letivo, ao Projeto O Museu Aqui e Agora e o Futuro que Lá Mora e a turma contemplada foi o 5ºC1.

    Muitos foram os museus que também aderiram à iniciativa, bem como alguns escritores que colaboraram na coleção de contos infantis sobre os Museus de Sintra cuja publicação teve subjacente o propósito de, à boleia da leitura, incrementar a sua visitação com a finalidade de valorizar o Património que é de todos. Por sorte ou coincidência, calhou-nos o Museu Ferreira de Castro, pelo que as atividades a desenvolver destinam-se a melhor conhecer o percurso de vida e obra do nosso estimado Patrono, incluindo a leitura e análise da obra “Não há borracha que apague o sonho” de Luísa Ducla Soares com ilustração de Danuta Wojciechowska.



    Ferreira de Castro viveu na época em que Salazar subiu ao poder, governou durante 40 anos (1928-1968) e ainda assistiu ao fim da Ditadura, com a Revolução 25 de Abril de 1974. Por isso, algumas das suas obras foram censuradas pela polícia política (PIDE), a representação de algumas das suas peças proibidas e vários dos seus projetos foram abortados.

    Para melhor perceber o contexto histórico em que viveu Ferreira de Castro, os alunos do 5º C foram convidados a realizar pequenos trabalhos de pesquisa sobre alguns aspetos do Estado Novo e da Revolução 25 de Abril. A turma foi dividida em dez grupos dos quais seis trabalharam temas relacionados com o Estado Novo e quatro sobre o 25 de Abril.



    A partir da leitura e análise do texto de apoio, da visualização de alguns vídeos da e sobre as duas épocas, da consulta dos livros selecionados pela Biblioteca Escolar e de sites sobre os temas, os alunos pesquisaram, selecionaram informação e elaboraram pequenos trabalhos sobre os pilares do Estado Novo, entre os quais, a PIDE e a Censura, e sobre a Revolução 25 de Abril e a biografia de dois dos seus protagonistas (Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho).



    Com esta atividade, os alunos compreenderam o quão difícil foi viver numa época de permanente controlo sobre as pessoas, incluindo os intelectuais, entre os quais Ferreira de Castro, em que o regime do Estado Novo procurou limitar a sua liberdade e a sua criatividade. Mas, como nos ensina o poeta Manuel Alegre, “Há sempre uma candeia que resiste/Dentro da própria desgraça” e Ferreira de Castro foi, certamente, uma “candeia”, entre outras, que contribuiu com a sua obra para Portugal sair da “desgraça”… Com esta atividade, os pequeninos e as pequeninas do 5ºC1 perceberam que mesmo nas situações mais difíceis vale a pena lutar para conseguir a liberdade desejada.














06 maio, 2022

Contos tradicionais ilustrados (DAR VISTA AOS CEGOS)


    Associar a leitura a projetos de criatividade visual é um objetivo constante da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro. Com os seus  projetos Lendas lidas e ilustradas e Contos tradicionais ilustrados, a biblioteca escolar associou a leitura de textos de tradição popular à ilustração criativa realizada pelos nossos leitores. A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro na sua obrigação de desenvolver o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, associa a sua função de promoção da leitura à implementação da compreensão no domínio de processos técnicos e performativos envolvidos na criação artística, possibilitando o desenvolvimento de critérios estéticos para o juízo crítico e para o gosto, numa vivência cultural informada.
    Hoje é o trabalho de Ana Carolina da equipa do 8ºA que divulgamos com o conto açoriano Dar Vista aos Cegos.



DAR VISTA AOS CEGOS

Um cego tinha uma filha muito linda, que o acompanhava para toda a parte,
julgando assim defender a sua honra. A rapariga combinou com o namorado um
estratagema: em um caminho estava uma cerejeira, e ele devia esconder-se aí, e
quando passasse com o pai arranjaria as cousas de modo a poderem abraçar-se.
As cousas dispuseram-se a seu talante.
Ao passar perto da cerejeira, diz a rapariga:
— Ó pai, está ali uma cerejeira, tão carregadinha, que parece um andor. Deixe-me
apanhar algumas?
O cego concordou, e depois que a filha subiu à cerejeira, ficou agarrado ao
tronco, para, segundo seu intento, guardar a honra da filha.
Os namorados não perderam tempo; mas no seu enlevo, passavam dois
peregrinos, que eram Jesus Cristo e São Pedro, que andavam pelo mundo.
— Divino Mestre! — exclamou São Pedro —, como é louvável um pai que
guarda a honra da filha.
Por um ar do divino Mestre o cego recuperou subitamente a vista; e espantado
de ver a filha entre a ramagem da cerejeira abraçada pelo namorado, ela com
toda a frescura acudiu de pronto:
— Não se zangue comigo pai: o que fiz foi para lhe dar vista.
São Pedro olhou para o divino Mestre, que na sua infinita bondade, disse
sorrindo: Mulheres hão de ser sempre mulheres.
(Açores)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.



05 maio, 2022

Visita de Estudo ao Museu Ferreira de Castro: O Museu Aqui e Agora e o Futuro que Lá Mora


    No âmbito do Projeto O Museu Aqui e Agora e o Futuro que Lá Mora, associado à Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, os alunos do 5º C1 realizaram uma visita de estudo que ao museu dedicado ao patrono do nosso Agrupamento – Museu Ferreira de Castro – no passado dia 5 de maio, onde foram recebidos pelo próprio Diretor do Museu, Doutor Ricardo Alves.




A visita de estudo começou no átrio onde o Doutor Ricardo Alves falou sobre o percurso de vida e obras do escritor Ferreira de Castro desde a sua infância (local de nascimento, família, formação), à emigração para o Brasil aos 11/12 anos (a vida difícil que aí viveu, as suas descobertas, o seu amor pela escrita e o sonho de ser escritor e as suas primeiras obras) o seu regresso a Portugal, a sua experiência no jornalismo e as dificuldades pelas quais passou, incluindo a Censura, até conseguir publicar as suas obras e triunfar no meio literário. Atentos e entusiasmados, os alunos foram participando e “bombardearam” o senhor Diretor com questões e dúvidas que com muito gosto foi respondendo aos alunos.


Depois da introdução inicial do Diretor, os alunos tiveram a oportunidade de participar numa oficina de Artes Plásticas, orientada pela pintora Danuta Wojciechowska (que ilustrou a obra Não há borracha que apague o sonho de Luísa Ducla Soares), que a turma leu e explorou nas aulas.

A oficina consistiu na ilustração de vários temas ligados ao percurso do escritor no Brasil: retratos, objetos, livros, Brasil e quadros. Os alunos foram distribuídos em cinco grupos, cabendo a cada grupo um tema. Sempre com a orientação da Danuta, os alunos percorrerem as salas do museu, para descobrirem retratos, objetos, livros, paisagens do Brasil e quadros e desenharem em folhas previamente recortadas (em forma de folha).

Os alunos aderiram muito bem à atividade e foram melhorando os seus trabalhos com a orientação da Danuta.

No fim, na escadaria da entrada do museu, cada grupo apresentou os seus trabalhos.








    Na última parte da visita, os alunos, a partir de um Guião – Kit Pedagógico, tiveram a oportunidade de percorrer o museu por ordem cronológica para aprofundar o seu conhecimento relativamente à vida e à obra do seu patrono, desde a sua infância, a sua viagem ao Brasil e as suas vivências nesse território, o seu regresso a Portugal e a publicação das suas obras, muitas delas traduzidas em várias línguas, sendo um dos autores mais lidos na época. À medida que iam percorrendo as salas, os alunos iam preenchendo o Kit Pedagógico, foram sendo acompanhados pelo senhor Diretor do museu que lhes foi respondendo às questões.

Foi um orgulho observar o interesse, a dedicação e o empenho demonstrados pelos alunos.

Apesar de cansados, a viagem de regresso foi muito animada com canções até à porta da escola.
Os nossos alunos estão de Parabéns!









03 maio, 2022

As árvores da Amazónia: O Museu Aqui e Agora e o Futuro que Lá Mora


Associado ao projeto O Museu Aqui e Agora e o Futuro que Lá Mora, os nossos alunos de 5º ano fazem um trabalho de pesquisa sobre as árvores da Amazónia. Investigando sobre as suas características principais, os alunos irão produzir um ppt sobre a árvore que estão a desenhar e partilharão connosco na classroom.


















Contos tradicionais ilustrados (AS CUNHADAS DO REI)


    A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro continua a dar a conhecer contos tradicionais portugueses e a solicitar a sua interpretação visual através de projetos que estabelecem parceria entre a biblioteca escolar e a disciplina de Educação Visual. Neste caso, do professor Fernando Trigo, temos a aluna Beatriz Varandas, do 8ºA1, que construiu o seu projeto de ilustração com o conto As cunhadas do Rei. Mais uma vez agradecemos a alunos e professores o facto de terem abraçado os projetos de ilustração de contos tradicionais e lendas do mundo, da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro.

AS CUNHADAS DO REI

O rei andava de noite pelas ruas acompanhado do seu cozinheiro e do seu
copeiro disfarçado, escutando pelas portas; passou por um balcão onde estavam
três meninas, alegremente conversando, pôs-se à escuta do que diziam:
— Ali vão três tunantes; se um fosse o rei, já eu sabia quem eram os outros.
— Um era o cozinheiro. Quem me a mim dera casar com ele; sempre havia de
comer bons fricassés.
— O outro era o copeiro; pois eu cá o que queria era casar com ele, porque
havia de ter bons licores.
Disse a mais nova:
— Eu não sei quem eles são; mas ainda que fossem condes ou duques, antes
queria casar com o rei porque lhe havia de dar três meninos cada um com a sua
estrela de ouro na testa.
O rancho foi-se embora, mas no outro dia, o rei mandou ir à sua presença as três
irmãs. Perguntou-lhes se era verdade o que elas tinham dito na véspera à noite.
Respondeu a mais velha por si.
Disse o rei:
— Pois então casarás com o meu cozinheiro.
A do meio também disse que tinha falado por zombaria; o rei mandou que se
arrecebesse com o copeiro. Chegou-se por fim a mais moça, que era a mais
bonita:
— Então, disseste que só querias casar comigo?
— É verdade, não posso mentir; mande-me Vossa Majestade castigar.
O que o rei fez foi casar com ela; as irmãs ficaram a arrebentar de inveja, mas
viviam no palácio. Ao fim do tempo, a que estava rainha teve dois meninos com
uma estrelinha na testa. As irmãs que estavam com ela, trocaram os meninos por
dois cães. Os meninos foram botados ao rio dentro duma condessinha, e
seguiram por água abaixo até ao moinho de um moleiro; como lhe parasse a
água, ele saiu a ver o que era, e achando as duas criancinhas tomou-as para casa e criou-as. 
Ora o rei andava longe da terra, e quando veio soube do caso e ficou
muito triste mas não fez mal à mulher.
Passado tempo a rainha teve uma menina, e as irmãs, vendo que ela também
tinha uma estrela na testa trocaram-na por uma cadelinha e mandaram-na
deitar ao rio; assim foi ter ao moinho onde já estavam os irmãos. O rei quando
soube que a sua mulher tinha tido uma cadela, mandou-a enterrar até à cinta no
pátio do palácio, para que todos que entrassem ou saíssem lhe cuspissem em
cima.
Os três meninos cresceram, e o moleiro pôs-lhes umas carapucinhas para
encobrir as estrelas de ouro que tinham na testa.
Um dia foi uma pobre pedir esmola à porta do moleiro; os meninos deram-lhe a
esmolinha, e era Nossa Senhora, que lhes disse, — quando se vissem em alguma
aflição dissessem: «Valha-me aquela pobrezinha.» Veio a peste, e o moleiro e
toda a sua gente morreu, e os meninos foram todos três por esse mundo.
Apareceu-lhes a pobre que os guiou até ao pé do palácio do rei, e deu-lhes a cada
um a sua pedrinha, para se tornarem em um grande palácio quando as atirassem
ao chão.
As tias estavam à janela do paço, e reconheceram que eram os meninos das
estrelinhas na testa; trataram logo de ver se os matavam. Mandaram ter com eles
uma criada bruxa, que disse ao mais novinho, para entrar no jardim e apanhar
um papagaio. Ele disse-lhe que não; vai o mais velho como animoso, disse:
— Pois vou eu.
E assim que entrou perdeu-se lá dentro e ficou encantado em leão. O outro
quando viu que o irmão não tornava chamou pela pobrezinha; ela veio e deu-lhe
uma lança, e disse:
— Vai ao jardim, e fere com ela o leão encantado.
Ele assim fez; e apareceu-lhe logo outra vez o irmão, que já tinha apanhado o
papagaio. Botaram a fugir logo, e os portões do jardim fecharam-se de repente e
só apanharam uma pontinha da aba do casaco de um deles.
A criada bruxa tinha no entretanto ido ter com a menina, e falou-lhe em certas
maravilhas da Árvore que bota sangue e da Água de mil fontes. A menina pediu
aos irmãos estas coisas, que eram para enfeitar os jardins do seu palácio. Cada
um foi lá por sua vez e lá ficaram ambos encantados. Quando a menina viu que
não tornavam, disse muito triste:
— Valha-me aqui a nossa pobrezinha.
Apareceu-lhe logo Nossa Senhora, que lhe ensinou como havia de ir ao jardim,
e desencantar os irmãos, e enfrascar a Água de mil fontes e cortar o ramo da
Árvore que deitava sangue. Ela fez tudo, mas era preciso, que por mais barulho
que ouvisse nunca olhasse para trás, senão ficava também encantada. Quando
vinha com os irmãos e com as coisas que eles tinham ido buscar, era muito o
barulho de vozes e só ao sair da porta é que deu um jeitinho à cabeça para ver
para trás, mas foi o bastante para lhe ficarem presos os cabelos. Os irmãos foram
buscar umas tesouras, e voltaram depois todos para o seu palácio defronte do rei.
Quando o rei aparecia à janela o papagaio não fazia senão rir. O rei convidou os
meninos para um banquete e pediu que levassem o papagaio.
Os meninos foram, mas ao passarem pela mulher que estava enterrada até à
cinta não quiseram cuspir nela. O rei teimou, mas não conseguiu nada. Foram
para a mesa; uma das irmãs da rainha é que trinchava, e tinha botado resalgar na
sopa dos meninos. O papagaio avisou-os:
— Meninos, não comam, que tem veneno.
O rei ficou desconfiado, e perguntou aos meninos porque não comiam; disseram
eles:
— Falta aqui uma pessoa; é aquela mulher que está enterrada até à cinta no
pátio do palácio.
Disse o papagaio:
— Mande-a o rei vir, porque ela é a mãe destes meninos.
O rei mandou vir a mulher; e disse-lhe o papagaio:
— Sente-a agora ao seu lado; olhe que ela é sua mulher.
E contou como é que as cunhadas do rei tinham mandado botar ao rio em
canastrinhas os três meninos, e tinham posto em seu lugar os cães; e se se
quisesse confirmar, que visse se os meninos tinham na testa as estrelinhas. Os
meninos tiraram as carapucinhas, e o rei conheceu-os, e abraçou a sua mulher; e
mandou que as cunhadas comessem a comida envenenada, e logo ali
arrebentaram.
(Airão — Minho)

Título: Contos Tradicionais do Povo Português – volume 1
Autor: Teófilo Braga
Edição: Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro
Coleção: Clássicos da literatura portuguesa
Adaptação, paginação e projeto gráfico: Carlos Pinheiro
1.ª edição: outubro de 2013
ISBN: 978-989-8671-16-5
Edição segundo as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de
1990.