O Livro Escolar Único foi uma ferramenta crucial no sistema educativo do Estado Novo, refletindo a tentativa do regime de controlar e doutrinar a população desde a infância. Através desses manuais, o governo de Salazar conseguiu não apenas padronizar o ensino, mas também promover a sua ideologia de maneira eficaz e duradoura. A centralização e a censura aplicadas aos conteúdos educacionais mostram como o Estado Novo utilizou a educação como um meio de perpetuar o seu poder e os seus valores na sociedade portuguesa. Neste sentido , esta atividade funcionou como uma aula de História diferente, e contextualizou o 50º aniversário da democracia em Portugal.
O papel da mulher no Estado Novo está muito bem definido nos manuais escolares.
Na prática, o regime salazarista «considerava as mulheres e os homens como seres essencialmente desiguais, as funções e os papéis, a que uns e outros tinham acesso eram distintos em áreas tão fundamentais como a família, a educação, o trabalho ou a vida cívica e política.
Mineiro, Adélia Carvalho (2007).
Valores e Ensino no Estado Novo - Análise dos Livros Únicos
Edições Sílabo, Lisboa. p.99
Complementámos a leitura dos manuais escolares com a referência à Mocidade Portuguesa como instituição de formatação ideológica.
Chamada Mocidade Portuguesa Feminina, esta foi regulamentada, em 8 de Dezembro de 1937, pelo Decreto n.º 28 26, em cujo artigo 9, estabelecia a obrigatoriedade de inscrição nessa organização a todas as portuguesas, estudantes ou não, desde os sete anos até aos 14 anos, e às que frequentavam o primeiro ciclo dos liceus, oficiais e particulares. O estatuto estipulava também que a organização tinha por fim formar uma mulher «nova», através da «educação moral, cívica, física e social»
Pimentel, Irene (2020)
A Mocidade Portuguesa Feminina e a Itália fascista
[Versão electrónica].Officina de la Storia
22/2020
Aos alunos do 9ºB1 foi também possível conhecer a revista da Mocidade Portuguesa Feminina, Menina e Moça, e o seu ideal feminino.
A jovem deveria ser simples e discreta, pois só assim seria verdadeiramente bela, distinta e elegante. Num Portugal que nos anos de 1947-1952 começava a dar lentos sinais de mudança, a organização estava atenta e sinceramente preocupada em chegar a um setor da sociedade potencialmente muito mais permeável a movimentos dissidentes. Não raro, recorria a argumentos que poderiam funcionar na perfeição: recordava o risco de a rapariga, se abusasse de cosméticos, se tornar mais feia ou até mesmo ridícula; e salientava o quanto aos homens desagradavam certos comportamentos femininos.
Braga, Paulo Drumond (2022)
O corpo feminino na revista Menina e Moça (1947-1952)
[Versão electrónica] Publicações do Cidehus
Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora
O ensino da História no Estado Novo:
A História de Portugal visa, além dos conhecimentos gerais que ministra, dentro da sua categoria, a formar portugueses; por isso a sua ação tem de ser eminentemente nacionalizadora.
Costa, João Manuel Tavares da (2018)
O Ensino do Português entre 1895 e 1974
Literatura, tradição e autoridade.
Tese de Doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa. Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra. 387 pp.
Alguns livros infantis serviram para ilustrar a ideologia vigente.
Por sua vez, a Pátria é entendida como «a Nação na sua integridade territorial e moral, na sua plena independência, na sua vocação histórica com a qual estabelecemos uma relação afectiva análoga à de filho com a mãe, num amor que nos deve levar até ao sacrifício, o desejo de bem servir, a vontade de obedecer — única escola para aprender a mandar —, a necessidade viva da disciplina, da ordem, da justiça, do trabalho honesto». (De Oliveira Salazar, citado in António Reis, «Os Valores salazaristas», Portugal Contemporâneo, Vol.2 (1926-1958),Lisboa, Edições Alfa,1990, p. 720.)
Mineiro, Adélia Carvalho (2007).
Valores e Ensino no Estado Novo - Análise dos Livros Únicos
Edições Sílabo, Lisboa. p. 59
Salazar como modelo no ensino no Estado Novo:
Formar as novas gerações educadas no espírito do amor e da defesa da pátria, o que levará à representação de Salazar como o exemplo do português modesto e trabalhador, pronto a sacrificar – se pela Pátria (Escola Portuguesa, 16 de novembro de 1939, p. 99).
Serrão, Vanda Maria de Bragança (2018)
O Ensino durante o Estado Novo em Portugal: O papel do professor,
Mestrado em Ensino da História no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário
Relatório de Prática de Ensino Supervisionada orientado pelo Professor Doutor Miguel Maria
Universidade de Lisboa,Lisboa.167 pp.
A Igreja Católica no ensino no Estado Novo:
Em 1940, Portugal havia celebrado uma concordata com a Santa Sé. (…) Esta concordata estabelecia que o ensino «nas escolas públicas seria orientado pelos princípios da doutrina e moral cristãs, tradicionais do País» o que deixa entender que a Igreja Católica volta a ser a religião com primazia dentro do Estado Português e que o ensino português deveria estar de acordo com os seus princípios que, consequentemente, seriam os ensinados e valorizados (…)indicações que visavam salientar o papel da religião católica dentro da História.
Pinheiro, Bruno (2012)
A educação religiosa nos manuais escolares de história:
Entre a ditadura e a liberdade (1947-2011)
Cultura, Espaço e Memória
Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
N.º 3 (2012): CEM
pp.79-95
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