Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de
Castro
De novo o caminho ia encabritando abada a acima. Padornelos estava perto,
mas mal se divisava. Os seus casebres de pedra solta, escurecida pelo tempo, e
cobertos de colmo, dir-se-ia fruírem poder mimético, confundindo-se,
apagando-se na encosta pardacenta. Se não fosse a moradia do “americano”,
erguida, com sua fachada branca e telhado vermelho, um pouco arriba do
aglomerado lugarenho, a quem visse de longe tudo parecia serra, não habitada
por homens, mas por lobos ou outros bichos que gostassem de abruptas solidões.
Para lá, o Larouco levantava a crista majestosa, ligando a terra ao céu e
ostentando, nas primeiras declividades, grandes lençóis de neve. Era vulto
enorme e altivo, presidindo, com a sua imponência ás outras montanhas que
rabiavam dali ao Gerês. E, nascido do seu peito, o Cávado, deslizando de fraga
em fraga, vinha correr cá em baixo, à esquerda de Leonardo. Ia manso o leito de
margens quase nuas, pois só um outro vidoeiro, desfolhado pela invernia, nelas
se destacava, alto e triste. Mas, qui e ali, alagava lameiros de erva mui verde
- únicas manchas de cor viva na paisagem austera, cóbrea e sombria”
Ferreira de Castro, Terra Fria (1934)
(BEFC 82-3 – CAS-TER)
pág.20
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