O estudo de documentos contemporâneos oferece uma visão mais precisa e contextualizada dos eventos históricos, permitindo uma compreensão mais profunda das circunstâncias e motivações subjacentes. Neste sentido, a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, integrada nas celebrações dos 50 anos da revolução portuguesa de 1974, organiza uma exposição sob tema A Educação no Estado Novo, de forma a que os alunos conheçam a realidade educativa anterior a 25 de abril de 1974.
Nos regimes totalitários, a educação é frequentemente utilizada como ferramenta de doutrinação desde a infância, moldando as mentes jovens de acordo com a ideologia dominante. Por este facto, os livros escolares eram cuidadosamente selecionados para refletir a ideologia do Estado Novo, glorificando a história de Portugal, enfatizando o papel do império e promovendo valores conservadores. A intenção era moldar a mente das gerações mais jovens de acordo com os princípios do regime autoritário, controlando assim a narrativa educacional e reforçando a lealdade ao Estado.
Com os alunos do 9ºC1 foi possível à professora bibliotecária dar a conhecer os manuais escolares do Estado Novo e de como eles são o retrato de uma formatação ideológica.
O lema Deus, Pátria e Família foi um dos pilares ideológicos do Estado Novo em Portugal. Essa tríade representava os valores fundamentais que o regime buscava promover e institucionalizar na sociedade portuguesa durante o período de 1933 a 1974. Nesta sessão com os alunos do 9ºC1 foi possível testemunhar esta realidade através da divulgação de conteúdos dos livros escolares únicos.
O regime salazarista aproveitou ao máximo as potencialidades que o livro único poderia oferecer e a confirmá-lo estão o conjunto das disposições legais que foram sendo publicadas nesse sentido. Logo em 1932, sendo ministro da Instrução Cordeiro Ramos, em anexo ao Decreto-lei n.0 21 014, de 19 de Março, surge um conjunto de máximas para serem inseridas nos «poucos» livros aprovados oficialmente, tais como:
A tua Pátria é a mais linda de todas as Pátrias: merece todos os teus sacrifícios.
Respeita a velhice: ela é depositária da experiência.
Nunca ponhas o teu interesse acima do da tua família, porque tu passas e a família fica.
Se tu soubesses o que custa mandar, gostarias mais de obedecer toda a vida.
Sejam as memórias da Pátria, que tivemos, o anjo de Deus que nos revoque à energia social e aos santos afetos da nacionalidade.
Mandar não é escravizar: é dirigir. Quanto mais fácil for a obediência, mais suave é o mando.
No barulho ninguém se entende, é por isso que na Revolução ninguém se respeita.
Mineiro, Adélia Carvalho (2007).
Valores e Ensino no Estado Novo - Análise dos Livros Únicos
Edições Sílabo, Lisboa. p.175
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