Aviador e escritor francês, Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry nasceu no dia 29 de junho de 1900, em Lyon, oriundo de uma família antiga da nobreza rural. O pai, um executivo de uma companhia de seguros, faleceu em 1904 vítima de apoplexia, o que terá levado a mãe, mulher de sensibilidade artística, a mudar-se com os filhos para Le Mans, em 1909. O jovem Antoine passaria portanto os seus anos de meninice no castelo de Saint Maurice de Rémens, rodeado das atenções das irmãs, tias, primas, amas e amigas da família.
Deixaria o castelo para estudar nos colégios jesuitas de Montgré e Le Mans e, na Suíça, entre os anos de 1915 e 1917, num colégio interno dirigido por padres marianos, em Fribourg. Após ter sido reprovado no exame final dos preparatórios para a universidade, ingressou na Escola de Belas-Artes como estudante de Arquitetura.
Em 1921 começou o cumprimento do serviço militar, às ordens do Segundo Regimento de Caçadores mas, como havia antes, aos doze anos de idade embarcado pela primeira vez num avião, foi enviado para Estrasburgo com a finalidade de receber treino como piloto. Fez o seu primeiro voo desacompanhado a 9 de julho de 1921 e, no ano seguinte, com a obtenção do brevet, recebeu uma proposta de adesão à Força Aérea francesa. Acabaria por recusar, cedendo às pressões da família da sua noiva, a romancista Louise de Vilmorin, e tentou estabelecer-se em Paris, trabalhando num escritório e escrevendo em simultâneo.
A vida de aspirante a homem de família em Paris não se revelou muito proveitosa para Saint-Exupéry. Assim, após ter calcorreado sucessivos empregos, de guarda-livros a caixeiro-viajante, viu romper-se o noivado, e decidiu retomar a sua carreira na aviação.
Numa época em que a aviação postal dava os seus primeiros passos como séria concorrente às expedições por via marítima e férrea, Antoine de Saint-Exupéry passou a pertencer, com a assinatura de um contrato com a Aéropostale, ao grupo de pioneiros cuja coragem desafiava os limites da razão e da segurança, batendo recordes de velocidade para entregar o que o escritor gostava de considerar como cartas de amor.
Em 1926 publicou, na revista literária Le Navire d'Argent, o seu primeiro conto, L'Aviateur.
Fazendo a ponte aérea entre a França e o Norte de África durante três anos, e escapando à morte por diversas vezes, Saint-Exupéry ascendeu, em 1928, ao cargo de diretor do aeródromo de Cap Juby, no Rio de Oro, situado no deserto do Sara. Aí, não só se sentiu fascinado pela aridez da paisagem, como encontrou tempo e disposição para escrever Courrier-Sud (1929), o seu primeiro romance, em que tratava o fracasso da sua relação com Louise contraposto à bravura dos pilotos da aviação postal.
Ainda no mesmo ano, Saint-Exupéry mudou-se para a América do Sul, onde foi nomeado diretor da companhia Aeroposta Argentina. Pilotando aviões de correio, voou através dos Andes, amealhando experiências que lhe serviram como material para o seu segundo romance, Vol de Nuit (1931, Voo na Noite), que logo se tornou um sucesso de vendas internacional, tendo ganho o prémio literário Femina e sido adaptado para cinema em 1933, com nomes como Clark Gable e Lionel Barrymore no elenco. Na obra, Rivière, um chefe de aeroporto calejado, perdeu todas as perspetivas de chegar à reforma, tendo aceite o trabalho de pilotagem de voos postais como o seu destino.
Em 1931, Antoine de Saint-Exupéry contraiu matrimónio com uma viúva, Consuelo Gómez Castillo, cujas amizades compreendiam figuras literárias como Maurice Maeterlinck e Gabriele d'Annunzio, e que viria a descrever o escritor, nas suas memórias, como uma criança ou um anjo caído do céu. Consuelo, apesar da adoração que sentia por Saint-Exupéry, viveu com ele um casamento conturbado, repleto de ausências, ciúmes e infidelidades de ambas as partes.
Com o encerramento do correio aéreo na Argentina, Saint-Exupéry regressou à Europa, onde passou a fazer a ponte aérea entre Casablanca e Port Étinne, bem como a exercer a profissão de piloto de ensaios para a Air France e outras companhias de aviação. Deu contribuições para o periódico Paris-Soir e chegou mesmo a fazer a cobertura dos acontecimentos do May-Day em Moscovo e a escrever uma série de artigos sobre a Guerra Civil de Espanha.
Em 1935, aos comandos de uma aeronave experimental ao serviço da Air France, despenhou-se quando sobrevoava o Norte de África e, tendo sobrevivido, teve que caminhar pelo deserto durante alguns dias, até ter sido salvo por uma caravana. Dois anos depois, pilotando o mesmo modelo, escapou à morte com ferimentos graves quando o avião caiu sobre a Guatemala.
Durante o período de convalescença, foi fortemente encorajado pelo amigo e escritor André Gide a escrever sobre a sua profissão. Terre des Hommes (Terra dos Homens) seria publicado em 1939, ano em que arrebataria os prémios da Academia Francesa para Romance e o National Book Award nos Estados Unidos.
Com a ocupação da França pelas tropas Nacional-Socialistas alemãs, em 1940, Saint-Exupéry alistou-se e, embora acabasse por ser considerado como inapto para a aviação militar por causa dos seus ferimentos, chegou a pilotar alguns voos de ousadia, que lhe valeram a condecoração Cruz de Guerra. No mês de junho do mesmo ano, e após a assinatura do armistício pelo Marechal Pétain, Saint-Exupéry mudou-se para a França livre com a irmã, de onde partiu para os Estados Unidos. Publicaria, em 1942, na cidade de Nova Iorque Pilote de Guerre, romance em que descrevia a sua fuga da pátria ocupada, e que seria banido pelas autoridades alemãs em França.
Juntar-se-ia de novo, em 1943, à Força Aérea francesa baseada no Norte de África e, depois de uma aterragem duvidosa, seria declarado pelo seu comandante como demasiado velho para pilotar. Não obstante, conseguiria posterior autorização para prosseguir os seus voos militares. No mesmo ano publicaria a sua obra mais conhecida, Le Petit Prince (O Principezinho), uma fábula infantil para adultos, traduzida para quase meia centena de línguas, das quais se inclui o Latim. O narrador da obra é um piloto que é forçado a aterrar de emergência no deserto, onde encontra um rapazinho, que se revela ser um príncipe de outro planeta. O principezinho conta-lhe as suas aventuras na Terra e fala-lhe da preciosa rosa que possui no seu astro natal. Acaba, no entanto por ficar desiludido ao saber que as rosas são bastante comuns na Terra e é aconselhado, por uma raposa do deserto, a continuar a amar a sua rosa rara. O principezinho regressa ao seu próprio planeta, tendo, contudo, encontrado um sentido para a sua vida.
Descolando da ilha da Sardenha a 31 de julho de 1944, em missão de reconhecimento, Saint-Exupéry nunca chegaria ao destino no Sul de França. Restam dúvidas quanto às possibilidades de ter sido abatido, ter tido uma falha técnica ou cometido suicídio. Deixou em terra o manuscrito inacabado de La Citadelle (1948, Cidadela), em que refletia o seu crescente interesse pela política.
Em 1998, a cerca de 100 milhas marítimas ao largo da costa de Marselha, um pescador local encontrou no mar uma pulseira com o nome de Saint-Exupéry e de Consuelo Gómez Castillo, a qual suscita ainda incertezas quanto à sua autenticidade.
Antoine de Saint-Exupéry. In Infopédia [Em linha].
Porto: Porto Editora, 2003-2012.
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