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26 junho, 2020

DIAS DE QUARENTENA - LITERATURA E FOTOGRAFIA: A EXCELÊNCIA DE UM TRABALHO


    Não queremos deixar passar este último dia de aulas deste ano letivo 2019/2020,sem divulgar um trabalho de excelência de uma aluna da Escola Básica Ferreira de Castro de 9º ano, Cecília Barbosa.

      Em Educação Visual, uma das tarefas de E@D disse respeito ao tema da Ilustração. O desafio constou em ilustrar versos de Fernando Pessoa através do processo fotográfico, revelando a interpretação pessoal do texto. Podia-se optar por vários tipos de imagem (realista, figurativa, abstrata), ou então criar uma composição (formal/cor) com vários objetos e/ou outros elementos.

      De muitos dos trabalhos realizados, destacamos o que aqui apresentamos porque para além do recurso fotográfico, surge um vídeo e um texto interpretativo elaborado por Cecília Barbosa da turma I do 9º ano.

       Os versos que Cecília utilizou da obra «Episódios - A Múmia». Poesias. Fernando Pessoa, são:
De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?


Convido-vos a ver a produção de Cecília 
antes de qualquer explicação da autora.


     Cecília Barbosa escreve assim, 
como criou esta produção:

      Eu já queria fazer um trabalho assim há muito tempo, eu queria fazer uma coisa que chocasse as pessoas e que as fizesse pensar.
      A ideia surgiu assim que li os versos. Pensei em fazer um trabalho apenas sobre os problemas que as mulheres têm com o seu corpo e como se sentem inseguras. Decidi pensar mais um pouco e defini que ia fazer um vídeo com todos os problemas que a mulher enfrenta diariamente, como o assédio, a violência, algum machismo no trabalho e as inseguranças.
    Fui ler alguns casos para fazer uma boa interpretação e comecei a tirar as fotografias. Para as fotos decidi que iria usar uma camisa branca e uns calções, queria que fosse delicado e queria que as minhas pernas aparecessem para representar a insegurança referente ao corpo.
     O texto foi surgindo. Enquanto editava as fotos, fui apontando tudo o que me vinha à cabeça, fui escrevendo e decidi finalizar com os próprios versos de Fernando Pessoa. Gravar não foi fácil porque nunca tinha feito nada deste género, mas penso que acabei por fazer uma boa interpretação do que tinha escrito. Quando ouvi o áudio pela primeira vez mexeu comigo e não contive as lágrimas quando vi o projeto concluído.
     Este trabalho mexeu muito comigo e é com certeza um dos trabalhos que nunca irei esquecer porque é uma realidade que todas vivemos. 


Obrigada Cecília por partilhares connosco a tua 
sensibilidade artística e sentido estético.

     Colocamos agora aqui o poema de Fernando Pessoa de onde foram tirados os versos inspiradores.

Fernando Pessoa 
III - De quem é o olhar 

III 

De quem é o olhar 
Que espreita por meus olhos? 
Quando penso que vejo, 
Quem continua vendo 
Enquanto estou pensando? 
Por que caminhos seguem, 
Não os meus tristes passos, 
Mas a realidade 
De eu ter passos comigo? 

Às vezes, na penumbra 
Do meu quarto, quando eu 
Para mim próprio mesmo 
Em alma mal existo, 
Toma um outro sentido 

Em mim o Universo — 
É uma nódoa esbatida 
De eu ser consciente sobre 
Minha ideia das coisas. 

Se acenderem as velas 
E não houver apenas 
A vaga luz de fora —
Não sei que candeeiro 
Aceso onde na rua — 
Terei foscos desejos 
De nunca haver mais nada 
No Universo e na Vida 
De que o obscuro momento 
Que é minha vida agora. 

Um momento afluente 
Dum rio sempre a ir 
Esquecer-se de ser, 
Espaço misterioso 
Entre espaços desertos 
Cujo sentido é nulo 
E sem ser nada a nada. 

E assim a hora passa 
Metafisicamente. 
s. d.
«Episódios - A Múmia». Poesias. Fernando Pessoa. 
(Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
 Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 64. 
1ª publ. in Portugal Futurista , nº 1. Lisboa: 1917. 

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