A literatura constitui um vasto campo onde o geógrafo pode encontrar. quase
sempre em espaços ficcionados, percursos sociais. cenários económicos e
culturais que o podem ajudar a compreender as relações. quase sempre complexas.
entre a população e o território.
LITERATURA E GEOGRAFIA: Outras viagens, outros territórios.
EMIGRANTES de Ferreira de Castro
Fernanda Delgado Cravidão e Marco Marques
Cadernos de Geografia. n. • 19. 2000 Coimbra, FL.U.C, pp. 23-27
Do currículo de geografia de 7º ano faz parte a observação e descrição
de paisagens. Enquadrado neste tema foi desenvolvido o projeto “As Paisagens”.
Este projeto foi desenvolvido em parceria com a Biblioteca Escolar Ferreira de
Castro que organizou uma exposição sobre a descrição de paisagens nas obras de Ferreira de Castro.
A visita e exploração da exposição
pelos alunos permitiu concretizar alguns dos objetivos previstos no projeto : utilizar o vocabulário geográfico em descrições orais e escritas de lugares, regiões e distribuições
de fenómenos geográficos; situar exemplos de paisagens
no respetivo território
a diferentes escalas geográficas: local,
regional, nacional
e continental, ilustrando com diversos tipos de imagens;
identificar o tipo de paisagem existente na região onde a escola se localiza;
caracterizar a paisagem envolvente da escola (rochas dominantes, relevo).
A
articulação da atividade da biblioteca escolar, com as experiências de aprendizagem
desenvolvidas em contexto de sala de aula, contribuíram para uma aprendizagem
contínua, facilitou a motivação para a descoberta de outras formas de escrita
(linguagens), onde o vocabulário geográfico está presente e estimulou o
desenvolvimento crítico do conhecimento e a imaginação e a criatividade.
Todas as turmas de 7º ano, acompanhados pelos professores de Geografia
visitaram a exposição da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro O
livro e a paisagem em Ferreira de Castro.
Tornar a
Biblioteca Escolar Ferreira de Castro um local de formação e desenvolvimento da competência leitora, condição
de todo o conhecimento, tendo como linha de ação a participação em iniciativas
de estímulo ao relacionamento das competências de leitura com outros domínios
do saber, objetivo do Programa Rede de Bibliotecas Escolares no seu
Quadro estratégico 2014-2020, esteve subjacente a esta atividade dedicada a
Ferreira de Castro.
O escritor da paisagem: Ferreira de
Castro
“O pinhal, todo de troncos
grossos, casca áspera e gretada, adormecida austeramente no silêncio da tarde
primaveril. As suas pinhas dir-se-iam incopuladas ou corroídas por antídoto
maltusianista, pois cá em baixo, no solo castanho e acidentado, nenhum pinheiro
infame erguia para o céu os bracitos verdes. Os caules nus, quase negros,
assimétricos, eram colunas dum tempo bárbaro, em cuja cúpula transparente o sol
ia tecendo prateada e fantasiosa malha. Por vezes, o tecido incorpóreo
esfarrapava-se e descia em fluidos caprichosos, até os galhos, formando
pulseiras, ou até ao chão, onde coagulava em jóias bizarras.
Ao fundo, cortando o
declive, estendia-se a linha avermelhada dum valado, que cedia terreno e
entrincheirava a multidão cerrada dos pinheiros adolescentes e mui viçosos – a
prole que os velhos não quiseram cobrir com as suas asas seculares.
À esquerda, para lá
ainda da falda do outeiro, esbranquiçava, por entre a ramagem estática, o
casario da aldeia. Desse lado, certamente de debicar os brincos vermelhos das
cerejeiras, um gaio vinha, de quando em quando, esconder no pinhal o cromatismo
da sua plumagem. “Chuá Chuá”. E era o único grito que quebrava o silêncio,
também volátil, das velhas árvores em êxtase”
Ferreira de Castro Emigrantes (1928)
(BEFC
cota:82-3 CAS-EMI)